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Segundo um estudo publicado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em 2018, as fake news não só atingem um número maior de pessoas, como também se espalham mais rapidamente do que as matérias apuradas e checadas.

 Por: Mábily Souza
27/06/201915:26- atualizado às 09:43 em 04/07/2019

O ano é 2016 e as eleições presidenciais dos Estados Unidos estão em curso. De todo lado partem notícias duvidosas que tentam derrubar a campanha dos adversários. É quando o termo Fake News ganha forma: informações de caráter falacioso – ou seja, notícias falsas – disseminadas nas redes sociais. Seja pelo Facebook, Twitter ou WhatsApp, o conteúdo se propaga ainda mais rápido do que as matérias jornalísticas. Em um cenário em que 60% da população da América do Sul é ativa nas redes sociais, a discussão sobre o tema se faz cada vez mais presente.

Segundo um estudo publicado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em 2018, as fake news não só atingem um número maior de pessoas, como também se espalham mais rapidamente do que as matérias apuradas e checadas.

 

 

Isso se deve a dois motivos. O primeiro é uma tendência do próprio cérebro humano de assimilar informações que estão de acordo com nossas convicções. É mais fácil aceitar um fato como verdadeiro quando ele reforça nossa opinião. Os pesquisadores da revista Science chamam este fenômeno de “viés de confirmação”.

O segundo é a facilidade com que essas notícias se propagam na internet, sobretudo nas redes sociais. Na América do Sul este cenário é ainda mais forte. O levantamento Digital in 2017, do site We Are Social, apontou que, no continente, 60% dos usuários da internet são ativos nas redes sociais. No Brasil, o Facebook e o WhatsApp lideram o ranking: o primeiro com 130 milhões de usuários e o segundo com 120 milhões. Não é à toa que essas redes são grandes disseminadoras de fake news.

 

Enquanto o jornalista é quem apura e evita a publicação de notícias tendenciosas ou falsas, os produtores de conteúdo não carregam a mesma responsabilidade. A pesquisadora e consultora de mídias digitais, Soraia Lima, acredita que esse é um fator influente na relação entre as redes sociais e as notícias falsas. “Em um mundo em que qualquer indivíduo pode produzir vídeos, textos e imagens, fica complicado saber o que é confiável e o que não é”, diz.

Geralmente, os conteúdos aparecem com chamadas tendenciosas de assuntos que estão em alta ou sobre figuras públicas. A aparência ‘interessante’ faz com que os usuários compartilhem o conteúdo antes mesmo de checar a veracidade das informações. E assim começa o ciclo: o site publica, o usuário compartilha com alguém, que compartilha com outro, que compartilha também… E assim por diante.

Quase metade deles já compartilhou um conteúdo nas redes sociais e depois descobriu que era falso. Esse comportamento resulta em um aspecto preocupante, segundo a Agência de Checagem aos Fatos: cerca de 80% dos internautas não checam o conteúdo para ter certeza se ele é verdadeiro ou não, de acordo com o quadro abaixo.

 

 

“As fake news já existiam antes das redes sociais, mas o encontro das duas possibilitou a viralização das notícias falsas. A falta de um mediador (o jornalista) que separa o verdadeiro do falso nas redes sociais faz com que todo conteúdo que seja popular seja compartilhado e se torne viral”, aponta a coordenadora do curso de jornalismo da FAPCOM, Marcia Avanza.

Neste cenário, a imprensa assumiu a missão de checar e divulgar os fatos, o fact-checking. “Checar a verdade das informações é a única forma de a imprensa assumir seu papel de mediadora entre as informações e o público, no sentido de qualificar o debate”, avalia a jornalista.

 

O que já está sendo feito

O Projeto Comprova é um forte exemplo. Parceria entre 24 jornalistas de diferentes veículos do rádio, televisão, internet e jornais impressos, a equipe irá apurar e investigar todas as informações enganosas ou tendenciosas durante a campanha presidencial de 2018. Outros projetos também estão se especializando na checagem de fatos, como o Truco, Lupa, Aos Fatos, ChecaZap e Fato ou Fake.

Pressionados pela opinião pública, tanto o WhatsApp quanto o Facebook adotaram medidas para combater as notícias falsas. O aplicativo de mensagens limitou o reenvio de dados para apenas 20 contatos, no Brasil. Além disso, também incluiu um campo escrito ‘mensagem encaminhada’, para o receptor ter conhecimento de que o conteúdo foi compartilhado de outro contato.  A rede de Mark Zuckerberg, por sua vez, tem bloqueado páginas que espalham boatos e discursos de ódio.

 

O que pode ainda ser feito

As empresas também podem contribuir para o combate às fake news

Para prevenir essa onda de desinformação, as empresas também devem agir principalmente no incentivo ao pensamento crítico. “O papel do funcionário é o papel do cidadão conectado: cercar-se de fontes de informação confiáveis e não passar para frente fatos que não foram noticiados por veículos conhecidos. Desconfie, questione”, destaca Soraia Lima.